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Matheus Pichonelli

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Documentário de Ricardo Calil reconstitui as muitas vidas do Cine Marrocos

Policiais entram no prédio do Cine Marrocos ocupado, no centro de São Paulo, em agosto de 2016 - Zanone Fraissat/Folhapress
Policiais entram no prédio do Cine Marrocos ocupado, no centro de São Paulo, em agosto de 2016 Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Colunista do TAB

03/06/2021 04h01

Escoltada pela polícia, Norma Desmond desce as escadas de seu velho palacete sob o olhar curioso de jornalistas e de um falso set de filmagem. "Estou pronta para o meu close-up", diz a antiga estrela do cinema mudo em "Crepúsculo dos deuses".

No início da década de 1950, em São Paulo, o clássico sobre apogeu e decadência em Hollywood foi um dos destaques da programação do recém-inaugurado Cine Marrocos, o "melhor e mais luxuoso cinema da América Latina".

Lá aconteceu o I Festival Internacional de Cinema do Brasil, megaevento que levou Oswald de Andrade a descrever, em 1954, um centro paulistano "quase intransitável" devido à agitação na cidade pela presença de astros como Edward G. Robinson, Fred MacMurray, Errol Flynn e Joan Fontaine, além do diretor alemão Erich von Stroheim — o mordomo Max de "Crepúsculo dos deuses" —, a quem foi dedicada uma retrospectiva em uma das salas com quase duas mil poltronas de couro.

Foi lá também, abaixo da escadaria do velho cinema, hoje abandonado, que o cineasta Ricardo Calil fez as vezes de Cecil B. DeMille e reconstituiu a famosa cena do filme de Billy Wilder. Quem interpreta Norma Desmond (ou seria Gloria Swanson?) é Volusia Gama, atriz amadora que, a exemplo da personagem do cinema, enfrenta seu crepúsculo particular quando o pai adoece, a a exigir cuidados e a obriga a deixar os dias luminosos em um estúdio — este, de dança.

A velocidade da queda a leva a uma profunda depressão, descrita por ela como um sino instalado na cabeça que, por um período, a impedia de ficar de pé. Volusia Gama era uma das mais de 2.000 pessoas que moravam no prédio do antigo cinema, desativado em 1994, após virar sala de cinema pornô, e ocupado em 2013 pelo MSTS (Movimento Sem Teto São Paulo).

A história da ex-dançarina é contada, junto com outros moradores da ocupação, entre eles imigrantes africanos e sul-americanos, no documentário "Cine Marrocos", que estreia nesta semana.

"É um filme muito diferente de 'Narciso em Férias', um ponto fora da curva na minha trajetória", me disse o cineasta, em referência ao documentário dirigido com Renato Terra sobre a prisão e o exílio de Caetano Veloso —e sobre o qual escrevi recentemente.

Sim, são documentários diferentes, mas com pontos de interseção consideráveis com este e outros filmes de Calil, como "Uma noite em 67", sobre o II Festival da Música Popular Brasileira, e "Os Arrependidos", vencedor do festival É Tudo Verdade de 2021 — e sobre o qual ainda não consegui escrever.

(Como o nome sugere, o filme reconstitui a história de militantes presos como terroristas na ditadura que deixam a prisão após se comprometerem a manifestar publicamente seu arrependimento. Uma aula sobre o funcionamento de regimes que inspiram a propaganda de mundos paralelos nos tempos atuais).

"Cine Marrocos", a exemplo dos trabalhos anteriores, tem em Caetano Veloso (ou melhor, em uma de suas músicas) um ponto central. O pano de fundo é a violência de uma cidade que se reconstrói sem se desfazer de seus entulhos autoritários, resultados diretos e indiretos dos falsos milagres da ditadura.

Para fazer "Cine Marrocos", Calil e sua equipe exibiram aos moradores da ocupação, que durou entre 2013 e 2016, algumas obras-primas exibidas nos tempos áureos do edifício, como "Júlio César", "A Grande Ilusão", "Noites de Circo" e, claro, "Crepúsculo dos deuses".

Em seguida, ele escolheu parte dos espectadores para integrar uma oficina de atuação e encenar alguns trechos das obras exibidas.

Em meio às referências dos clássicos em preto e branco, a influência de Eduardo Coutinho parece circular o tempo todo pelo velho palacete. Entre o salão e os quartos improvisados da ocupação, os personagens transitam entre ficção e realidade como os entrevistados do documentarista em "Jogo de Cena" e "Edifício Master".

Enquanto, na ficção, Shakespeare inspira a tragédia a ser reencenada, na vida real o drama dos entrevistados esbarra no abandono, na violência doméstica, na especulação imobiliária e até nas guerras e perseguições que se atualizam perto e longe daqui. Um dos atores amadores, por exemplo, é sobrevivente de um ataque do Boko Haram, o sanguinário grupo terrorista da Nigéria.

Ali todos são sobreviventes, mas não estavam exatamente salvos. A história da ocupação é a história de uma reviravolta.

O roteiro deste filme dentro do filme é construído entre idas e vindas de decisões judiciais e operações. Nas reportagens da época, o spoiler inevitável é saber que mesmo quem não atuou na oficina teve seu dia de Norma Desmond, a atriz cercada por forças policiais, ao descer das escadarias para o close final.

Hoje, quem a em frente ao prédio de número 344 da rua Conselheiro Crispiniano tem dificuldade em visualizar, atrás das grades e muros pichados, a inscrição do velho cinema. Não imaginam também que por ali já aram, não faz muito tempo, pequenos grandes artistas que assimilaram às suas marcas e trajetórias as histórias consagradas por Billy Wilder, Jean Renoir e Ingmar Bergman.

O filme de Calil é o registro dessas marcas pessoais que mimetizam de certa forma o próprio cinema. As histórias não se resumem a apogeu e decadência entre uma era de ouro e a explosão final. Entre uma ponta e outra havia gente viva. Muito viva. É ali que reside a grandeza do filme e de um pedaço tão escondido quanto escancarado da cidade.