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Mizuneira, o jovem que restaura os tênis mais cobiçados na periferia de SP

Eduardo André de Oliveira, restaurador de tênis Mizuno - Fernando Moraes/UOL
Eduardo André de Oliveira, restaurador de tênis Mizuno
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Felipe Maia

Colaboração pra o TAB, de São Paulo

22/05/2022 04h01

O fardado vinha pisando fofo, no calcanhar e na ponta do pé. Eduardo ouviu mesmo assim. Virou o rosto, lá de baixo do escadão, e viu o policial armado, que espreitava numa descida desapressada. A sua frente, bem próximo à guia onde estava sentado, imóvel, um carro de vidro preto havia estacionado. De dentro saíram dois homens. Ao lado de Eduardo, os três oficiais se encontraram, falaram alto, olharam com deprezo o corpo do rapaz negro inerte na calçada. Não demorou e seguiram para a rua ao lado. Foi por pouco. Eduardo, que tinha acabado de sair de um plantão no ponto de venda de drogas, decidiu ali mesmo: "Não quero mais isso pra mim".

Pouco tempo depois nascia o Mizuneira. O apelido pelo qual atende Eduardo André de Oliveira, 24, é também o nome de sua empresa. Fundada há quase dois anos por ele e sua esposa, Debora Ferreira, a oficina se tornou um dos poucos socorros para jovens que amam os tênis Mizuno. Com esmero, linha, tesoura e cola, Eduardo dá vida nova a pares de tênis surrados, destruídos pelo tempo e dias de baile funk na rua. O jovem é hoje o principal especialista em manutenção, reforma e restauração de calçados da marca. Nas mãos do Mizuneira, um Mizuno caindo aos pedaços volta a ser uma joia.

O sobrado onde atende seus clientes, em uma ruela de Diadema, na Grande São Paulo, está lotado de pares que, de tão cobiçados, só podem ser chamados de relíquia. São exemplares lançados nos últimos dez, quinze anos, com valores que começam em algumas centenas de reais e vão até a casa dos R$ 1.000, R$ 2.000.

São objetos míticos, como qualquer item de colecionador, e muitos são até mencionados em letras de funk e de rap. Prophecy, Wave, Mosca Branca — alguns, como o branco com detalhes vermelhos, têm apelido —, Mizuneira conhece todos os modelos de cima a baixo, de dentro pra fora. "Mas não existe tênis igual", diz. "Cada uso é diferente."

A fila para restaurar tênis com Mizuneira, em Diadema - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
A fila para restaurar tênis com Mizuneira, em Diadema
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Serviço concorrido

Cada atendimento também é diferente. De três em três meses, Eduardo abre a loja para novas encomendas — do contrário ele não dá conta de tanto trabalho. Não são nem 8h da manhã de sábado e já tem gente gritando da rua "Ô, Mizuneira!"

Deixar o tênis ali é oportunidade rara que reúne jovens de várias periferias de São Paulo. Grajaú, diz um; "vim lá da zona norte e estou desde 2020 esperando abrir vaga", diz outro; "o bom de sábado é que eu posso vir aqui antes do serviço", comenta um rapaz com jaqueta de motoboy. Funkeiro com alguns hits, MC Baroni aparece na fila. "Todo mundo olha seu pé quando você chega no baile", ele conta. Às 10h, entre 20 e 30 fãs de Mizuno aguardam sua vez para ouvir a avaliação do especialista.

A manhã acaba e a fila, não. Mizuneira nem comeu, mas segue atendendo os clientes. Tudo vai anotado em um caderninho: nome, contato, tipo de serviço, pagamento. Ajustes no calcanhar custam R$ 70, manutenção e reparos na sola podem custar até R$ 180 e o trato completo pode ficar em torno de R$ 300. Essa é a divisão básica do trabalho na oficina.

Mizuneira acorda cedo, por volta das 7h, faz seus rituais da manhã e toca a jornada segundo a ordem que tem anotada. Há cerca de cem pares esperando por uma nova vida na oficina. Ele leva mais ou menos duas horas em cada tênis costurando, colando, limpando e até mesmo recriando logotipos e detalhes danificados.

Eduardo André de Oliveira, restaurador de tênis Mizuno - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Imagem: Fernando Moraes/UOL

A esposa, Debora, istra a empresa e cuida de um tudo, de redes sociais a finanças. Ela também foi a primeira a acreditar e investir no Mizuneira. "Nós conseguimos essa máquina de costura de um sapateiro que se aposentou. A Debora tinha uns R$ 2.300 na conta e aí a gente comprou", diz Oliveira, apontando para o único item antiquado em uma sala cheia de calçados modernos, linhas coloridas e potes de tinta. A ferramenta chegou em 2021, quando o casal já via os negócios caminhando. Foi durante a pandemia, depois de anos acumulando bicos, quando Mizuneira decidiu se dedicar ao que sabia fazer melhor: consertar os tênis que amava.

"Comecei a arrumar meus tênis em 2015 e fui na raça, estragando os meus, mesmo", lembra ele, que nunca fez nenhuma especialização na área. "Existe curso de sapataria, mas é algo distante disso. Muitos sapateiros, mais antigos, não puderam estudar e aí fazem o que podem quando precisam restaurar um tênis desses. E a forma que eles usam pode muitas vezes não ser a forma certa. A falta de informação é gigantesca nesse meio."

Rodrigo Alves Cordeiro é fã de Mizuno e foi até Diadema para reformar os seus: 'vim lá da zona norte e estou desde 2020 esperando abrir vaga' - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Rodrigo Alves Cordeiro é fã de Mizuno e foi até Diadema para reformar os seus: 'vim lá da zona norte e estou desde 2020 esperando abrir vaga'
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Em busca dos recebidos

A febre do Mizuno nas favelas e periferias do Brasil, especialmente em São Paulo, data de pouco mais de uma década. A ascensão da marca corre em paralelo à ascensão do funk na cidade, com sua estética de códigos que mesclam valor de etiqueta e arrojo de vanguarda. "Quando eu era menor, o Puma Disc e o Nike Shox eram os tênis mais queridos, mas aí veio a Mizuno com tênis de mil reais. Nunca teve tênis de mil no Brasil. Quem não ia querer um daquele?", explica Mizuneira.

Apesar de ter 80 mil seguidores no Instagram, Oliveira nunca foi oficialmente ado por representantes da multinacional japonesa. Ele menciona o exemplo da Lacoste, que tardou a reconhecer artistas do funk e do rap como Dricka, Hariel e Kyan como personagens que ditam tendência.

"Essas marcas não querem reconhecer que o público deles é a favela. Eles querem pagar de boutique, de gringo", diz Oliveira. "Tem influenciador com 10 mil seguidores que recebe tênis da Mizuno. Eu não recebo. Por quê?"

Ao contrário: em se tratando de Mizuno, Mizuneira caminha pela ideia de compartilhar. Há alguns meses, começou a transmitir seus conhecimentos a mais gente que também queria entrar no mundo das reformas dos tênis-relíquias. "ei a ensinar porque eu não vou conseguir arrumar todos os Mizunos do mundo", diz ele. "Como não consigo dar conta e o Brasil é carente na parte de emprego, a gente tem que gerar trabalho. O meu ganha-pão se tornou o ganha-pão de outras pessoas."

Hoje, os antigos alunos @fbsapateiro, @reliquias_restauracoes e @escobar_reliquias têm negócios próprios e são amigos de Eduardo André de Oliveira — é a família Mizuneira.

Clientes aguardam o atendimento de Mizuneira em Diadema, na Grande São Paulo - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Quando o patriarca abre novas vagas para encomendas, como no sábado, não são só clientes que aparecem em sua casa. A turma também se reúne. A resenha vai de maneiras de colar solas a quem perdeu pro outro na última disputa de FIFA no videogame.

Finalizado o atendimento do último cliente, no fim da tarde, Oliveira sobe a escada do sobrado para se reunir com os amigos e tomar um café. Ele limpa de leve seu próprio tênis. É um Prophecy 2, um tênis púrpura com sola vazada e detalhes de azul-turquesa. "Esse eu não vendo. Ter esse tênis era meu sonho de infância", confidencia, rodeado de todos os Mizunos que fazem seus pares sonhar.

Mizuneira - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Imagem: Fernando Moraes/UOL