Cidade em choque: Caratinga (MG) chora na praça a morte de Marília Mendonça
Tudo estava quase pronto: Caratinga (MG) faria uma festa das grandes, a primeira aglomeração importante da região em 2021.
O show de Marília Mendonça no Parque de Exposições da cidade de 92 mil habitantes fora anunciado em cartazes como "O Retorno" -- a estrela revisitaria Caratinga após um show vigoroso para 11 mil pessoas, 5 anos atrás, seu primeiro em Minas Gerais. A apresentação desta sexta (5) reuniria um público de 8 mil fãs e fazia parte da nova turnê da cantora.
Às 19h30, uma hora e meia antes da abertura do show, não havia som ou qualquer movimentação. Cerca de 15 funcionários recolhiam as bebidas geladas que seriam vendidas nos bares e desmontavam as grades da pista e o palco.
Cabisbaixo, um dos funcionários, com idade em torno de 50 anos, empilhava as latas de cerveja que enchiam um freezer. Ele lamentou a morte de uma artista tão jovem e o fato de estar recolhendo materiais que serviriam a uma festa que nem chegou a acontecer. A desmontagem do palco, que começou perto das 17h, ficou a cargo de alguns homens que pouco quiseram conversar com a reportagem de TAB. Disseram apenas terem vindo de São Paulo para trabalhar.
A tristeza, de todo modo, era perceptível. Um ônibus viria de Ipatinga, distante 96 quilômetros, com mais trabalhadores para atender ao bar e às imediações, mas a viagem fora interrompida quando as primeiras notícias do acidente de avião começaram a aparecer.
Às 17h45, o Corpo de Bombeiros confirmou que a cantora estava entre as cinco vítimas fatais da queda de uma aeronave na zona rural de Piedade de Caratinga, vizinha ao local do show. Até o momento, sabe-se que a aeronave colidiu com uma rede de alta tensão, mas não se sabe se houve falha antes ou após a batida.
Em uma coletiva de imprensa, realizada na noite de sexta-feira (5) na sede da Polícia Civil, o delegado Ivan Lopes, à frente das investigações, disse que o trabalho da perícia começou logo após o acidente e vai se estender durante todo o sábado (6). Segundo ele, uma equipe de médicos legistas veio diretamente de Belo Horizonte para o IML de Caratinga. "Eles irão trabalhar de forma incansável até a meia-noite para liberar os corpos para os familiares."
Cantoria espontânea
A estudante de engenharia civil Mileny Schuenker, 21, e mais sete amigos se preparavam para a excursão de ônibus que cruzaria os 69 quilômetros entre a cidade de Raul Soares e a vizinha Caratinga.
Seria a primeira vez que o grupo, muito fã de Mendonça, assistiria a um show da cantora. O entusiasmo com os preparativos para a excursão no grupo de WhatsApp da turma foi bruscamente interrompido quando fotos do avião caído começaram a circular na internet.
Consternados, os amigos acompanharam pela televisão a confirmação de que não havia sobreviventes no acidente envolvendo a cantora. "Ficou todo mundo muito triste e as redes sociais só falavam disso. Combinamos de nos encontrar no Bar do Beto [em Raul Soares] para ficar juntos. Era pra gente estar cantando com ela hoje."
No bar, dezenas de pessoas tiveram a mesma ideia de Mileny e os amigos. Os fãs brindaram à vida de Mendonça madrugada adentro.
Na hora marcada para o show, em Caratinga, a aglomeração aconteceu na praça Cesário Alvim, com seu coreto ao centro. O lugar foi enchendo de gente a partir das 21h.
Ninguém soube dizer de quem foi a ideia, compartilhada nas redes sociais, de homenagear a cantora na frente da Catedral de São João Batista. Na hora marcada para começar, ninguém tomou a frente ou a palavra. A ida de dezenas de fãs foi espontânea, quase fruto do choque coletivo.
Júnior Pinheiro, 31, que também é cantor sertanejo, conta que estava ansioso pelo show daquela noite. Foi ele quem resolveu subir no coreto para liderar a homenagem.
"Eu sou um aqui, mas nós somos milhares em todo o Brasil por essa causa hoje", falou ele para a pequena multidão formada. Do alto, Júnior puxou um Pai-Nosso pelas vítimas do acidente e pediu uma salva de palmas em homenagem à cantora. A partir dali, os fãs reunidos na praça começaram a cantar os maiores sucessos de Marília Mendonça. Não haviam parado, até perto das 22h30.
Mateus Costa de Oliveira, 16, contou que estava ansioso para ir ao show. "Trabalhei o dia todo pensando nisso. Às 16h, recebi a notícia. Agora a música está de luto."
"Eu era muito fã dela desde pequena. A música 'Estrelinha' me tocava muito. Agora ela é a estrela do céu", disse Sibele de Oliveira, 16, que também estava na praça
As amigas Enaicrat Almeida, 31, Juliana Campos, 36, e Rahiane Ferreira, 29, moradoras de Caratinga, também foram prestar sua homenagem. Juliana não iria ao show, mas não deixou de marcar presença: "Em 2016, quando estourou, Marília marcou uma fase da minha vida. Ela foi minha companheira quando eu estava muito sozinha."
Rahiane, que é técnica de enfermagem, comprara seu ingresso meses atrás e aguardava o show com ansiedade. Naquela tarde, ouviu a notícia por um de seus colegas de trabalho. Todos se juntaram para acompanhar pela televisão e pela internet. "Não tinha mais clima para trabalhar, todo mundo estava prestando atenção nisso."
A assistente jurídica Enaicrat queria muito ir ao show, mas havia vendido seu ingresso há poucos dias por ter ado por uma cirurgia recente. Seu único consolo era ter a chance de ir ao show da cantora em Belo Horizonte, previsto para 2022. Ela emocionou-se ao falar: "Ninguém espera que isso aconteça. Até o último segundo todo mundo esperava que ela estivesse bem. Agora ficam apenas as lembranças."
*Colaborou Luiza Sahd
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