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Só se sente saudade em português? Como uma língua pode moldar as sensações

Ritual de iniciação masculino entre os Inys, ou Karajás - Reprodução
Ritual de iniciação masculino entre os Inys, ou Karajás Imagem: Reprodução

Luiza Pollo

Colaboração para o TAB

11/10/2020 04h00

O povo Iny (se pronuncia inã em português, conhecido também como Karajá) conta sua história com desenhos em bonecas de cerâmica. As Rit­xoko trazem, em ilustrações pelo corpo e nas formas em que são esculpidas, acontecimentos importantes e ensinamentos sobre as tradições. Diz-se muito sem palavras.

Usei o termo "Rit­xoko" porque quem está escrevendo esta reportagem é uma mulher. Se fosse um homem Iny, as chamaria de Ritxòò. Isso porque há um vocabulário diferente para os homens e para as mulheres do povo na língua iny rybè (se pronuncia inã rubé em português), como conta Hioló Werreria, indígena Iny e estudante de medicina na Universidade Federal do Tocantins.

Boneca Rit­xoko, tradicional do povo Iny - Hioló Werreria/Acervo pessoal - Hioló Werreria/Acervo pessoal
Boneca Rit­xoko, tradicional do povo Iny
Imagem: Hioló Werreria/Acervo pessoal

"A gente aprende duas línguas: a mulher fala de um jeito bem diferente do homem, apesar de serem semelhantes. A mulher me chama de Ikolóku e o homem vai me chamar de Hioló. E cada um precisa saber falar da forma como os homens falam, e entender a forma como as mulheres falam", relata.

A língua carrega consigo a cultura do povo, organizada em uma estrutura matriarcal, relata Werreria. Assim como vocabulários diferentes para homens e mulheres são reflexo da estrutura social dos Iny, há diferentes maneiras de se aproximar e entender tradições ao observar como o outro fala, e quais palavras ele tem para isso.

Sou apaixonadamente INY

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"A experiência de um coletivo faz a língua. A partir do momento em que é minha experiência, a língua reflete como eu vejo o mundo, como eu penso e me comporto. É uma relação dinâmica. Não há como saber quem vem primeiro", diz Ana Suelly Cabral, professora do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da UnB (Universidade de Brasília) e coordenadora do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da universidade.

As línguas indígenas podem ser tão diferentes entre si quanto são o português do inglês (cujas origens são diferentes) ou o francês do espanhol (que têm em comum a raiz latina), dependendo de onde se desenvolveram. Mas, uma coisa com que os linguistas parecem concordar, é que todas as línguas do mundo guardam diversas semelhanças entre si.

"A gente espera que todas tenham nomes, verbos, atributos. Classes básicas de palavras você vai encontrar em qualquer língua", explica Cabral. E isso tem muito a ver com biologia. O cérebro humano não é tão diferente um do outro. "O meu, o teu, o do chinês, o do indígena. Eu tenho um cérebro humano, que também impõe limites", observa Ana Lúcia de Paula Muller, professora do Departamento de Linguística da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e pesquisadora do Geli (Grupo de Estudos em Línguas Indígenas).

Sim, as redes cerebrais mais básicas são semelhantes em todas as culturas. Quem confirma é Carla Tieppo, neurocientista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, além de palestrante na área e membro da Singularity University Brazil. No entanto, muito do nosso desenvolvimento e relação com o mundo vem do aprendizado de uma língua. "Nós só temos a capacidade cognitiva que temos, e só conseguimos formular hipóteses sobre a agem do tempo, sobre a existência, apoiados nos recursos linguísticos. A linguagem proporciona ao funcionamento cerebral, à dinâmica do cérebro, os recursos semânticos que são fundamentais para que a gente aproxime conceitos", afirma.

Vocabulário e sintaxe

As palavras que usamos e a forma com que as dispomos nas frases têm tudo a ver com o jeito como enxergamos o mundo. Uma coisa alimenta a outra: a língua é formada e modificada todo o tempo, com base nas experiências e necessidades de seus falantes, e as pessoas também moldam e expressam suas experiências com base nas palavras e estruturas que têm à sua disposição. E isso pode variar em maior ou menor medida entre diferentes idiomas.

"Há línguas indígenas em que não existe uma classe de adjetivos. O que preenche essa função de atributo é a combinação de um nome com outro nome, ou um nome com um verbo", exemplifica Cabral, da UnB. Ela lembra também que a marcação do tempo costuma variar. Enquanto em português colocamos ado e futuro no verbo (correr, correrei, corri), as línguas do tronco Tupi costumam fazê-lo sem flexionar o verbo. "Essas pessoas vivem em comunidades em que todo mundo está ali. Todo mundo sabe o que aconteceu e quando. Então normalmente você tem marcas sintáticas, palavras e expressões que vão dizer 'muito tempo atrás', por exemplo."

São modos diferentes de indicar fatos, de acordo com as necessidades de cada sociedade. Há quem diga que marcar o tempo fora do verbo diminui a sensação de ansiedade, por exemplo, ao se dar menos peso ao futuro. Um estudo de 2017 feito com 80 voluntários demonstrou que falantes de sueco e de espanhol tinham uma percepção diferente da agem do tempo quando utilizavam expressões em suas respectivas línguas. Os participantes bilíngues, inclusive, relataram sensações de agem do tempo diferentes ao usar um idioma ou outro. Mas isso só vai até certo ponto.

"Línguas como o português têm ado, presente e futuro. Há línguas que têm ado e não ado, futuro e não futuro. Há diferença morfológica, não cognitiva", explica Muller. "Quanto isso influencia nossa percepção é outra questão. O alemão é uma língua sem marca de futuro morfológica, e não vamos dizer que o alemão não consegue diferenciar entre ado, presente e futuro", lembra ela.

Cabral dá outro exemplo: em algumas línguas da família tupi-guarani, é preciso marcar se aquilo que você está dizendo é algo que você presenciou, ou se foi alguém que te contou. Em um mito, por exemplo, todos os enunciados são flexionados para dar a entender que aquilo é uma história contada de muito tempo atrás. "Você tem o tempo mítico, o tempo onírico, e o tempo das coisas que você presenciou, ou se foi o outro. É a coisa mais linda do mundo", diz a professora.

Saudade não tem tradução?

É praticamente impossível provar ou mesmo especular que os seres humanos sintam coisas diferentes por causa de seus idiomas. Você já deve ter escutado, por exemplo, que a palavra "saudade" só existe em português — tem quem discorde.

Polêmica à parte, será mesmo que dá para dizer que falantes de outras línguas não sentem a mesma coisa que nós, só porque usam jeitos diferentes de expressar? Os ses, por exemplo, vão dizer que a outra pessoa "falta" a elas — tu me manques. Os ingleses e norte-americanos dizem que sentem falta do outro — I miss you.

Em iny rybè, Werreria conta que há uma expressão para designar o momento em que a vida volta ao normal após o período de luto. São tantos exemplos que há até mesmo projetos que reúnem palavras "intraduzíveis", como o projeto The Glossary of Happiness (o glossário da felicidade, em tradução livre) e o perfil no Instagram Untranslatable.co.

The cutest word

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"Quando alguém aprende uma língua, no mínimo sabe alguma coisa sobre uma cultura diferente", diz o indígena Iny. "Não é só uma língua. Você tem possibilidades de se envolver, se apaixonar, de criar vínculos profundos."

Organizar o que sentimos em palavras é essencial para nos relacionarmos com o mundo, lembra Tieppo. "Sentir não depende da interpretação, mas a interpretação traz autoconsciência", afirma a neurocientista. "O processo mais importante do autoconhecimento, que é você ter repertório para fazer uma análise racional sobre o que vai no campo na sua emocionalidade, é beneficiado por recursos de linguagem."

E, se por um lado, o estudo das diferenças nas outras línguas nos ajuda a criar empatia e compreender culturas e contextos diferentes dos nossos, vale sempre lembrar o que temos em comum, opina Muller: "É muito bonito ver as diferenças, mas também é bonito ver as semelhanças. Elas mostram que somos todos iguais."