Por mais que a percepção de tempo seja subjetiva, seus efeitos são palpáveis: dela também depende a sua qualidade de vida.
O livro “Felt Time: The Psychology of How We Perceive Time” (Tempo Sentido: A Psicologia de Como Percebemos o Tempo, em tradução livre para o português), do psicólogo Marc Wittmann, defende que a forma como lidamos com o tempo cria diferentes perspectivas de nossos sentimentos, memórias, felicidade, linguagem, conquistas, individualidade, consciência, estresse, doenças mentais e capacidade de aproveitar o presente. Em "The Time Paradox" (O Paradoxo do Tempo), o psicólogo Philip Zimbardo define o tempo como uma das mais poderosas influências sobre nossos pensamentos, sentimentos e ações, apesar de estarmos desatentos a seu impacto em nossas vidas.
Mario Miguel dá exemplos práticos, ressaltando que as perturbações nos ritmos internos – causadas por estresse e privação de sono, por exemplo – podem trazer prejuízos em curto e longo prazo. Desde a variação de humor, que atrapalha relações interpessoais, à dificuldade em calcular o intervalo entre os carros ao atravessar a rua. Em laboratório, ele conta, indivíduos com privação de sono estimam espaços de dez segundos como sendo mais longos – seu “relógio” registra os pulsos mais lentamente. Por outro lado, o aumento da temperatura corporal - algo normal no fim de tarde - nesse mesmo tipo de teste faz com que o ritmo dos pulsos suba, acelerando a percepção daqueles dez segundos.
Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), faz uma relação direta entre os tipos de sofrimento e o tempo: aquele que não a para o depressivo, o rápido demais para o ansioso, o infinito da angústia para quem sofre de pânico, a uniformidade temporal do paranoico. “A qualidade de vida não está na posse de bens ou pessoas, mas na experiência do tempo com eles. Reforçamos isso quando contamos até dez, quando nos damos uma pausa para respirar, quando criamos intervalos, parênteses e cafezinhos para nos reposicionarmos no tempo. Encontrar uma melhor qualidade de vida é superar esta máxima de que o tempo útil é o tempo produtivo e reversível em obras ou feitos. O que vale é o tempo próprio de cada um e de cada experiência”, afirma.