Acordar, olhar o celular e gargalhar de um meme. Descer a timeline e encontrar um relato impactante em primeira pessoa. ar o café pensando nesse textão, dividir as reflexões que surgiram a partir dele com uma amiga, mandar talvez a postagem para alguém da família? Bom, bora pagar os boletos. No ônibus, relaxar com as novas figurinhas no grupo dos amigos. No almoço, um vídeo engraçado vai viralizar e com certeza até o fim do dia outro textão vai capturar sua atenção.
Hoje, a mudança de humor em intervalos cada vez mais curtos é influenciada pelo uso intenso das redes sociais. "O mundo virtual tem moldado nossa subjetividade de uma maneira diferente", diz o psicanalista Marcelo Veras, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Dados de 2018 levantados pelas plataformas Hootsuite e We Are Social apontam que o brasileiro fica conectado em média nove horas por dia. Ali, aprendemos a linguagem que melhor funciona, adaptamos o que falar, observamos os usos, as regras não explícitas, (acreditamos que) driblamos algoritmos.
Adaptados a esse idioma que se transforma conforme a plataforma, os memes e textões dominaram a rotina dessa década como modos de a gente rir, repercutir notícias, dividir descontentamentos, colocar o dedo em feridas, relatar injustiças e até se informar. Entraram logo no vocabulário para além da internet: "virar meme", "dar textão".
Suas características também interferiram no jeito de compreender o mundo e expressar sobre o que acontece à nossa volta. Viktor Chagas, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), os vê como manifestações culturais de grande relevância para entender o período e, também, como "extravasadores de afetos".
E não foi pouca coisa que afetou a gente nos últimos tempos.