Marília Mendonça chegou num carro preto ao estúdio Plug-in, em Pinheiros, onde Gal Costa a aguardava para uma gravação. Ambas dariam voz a "Cuidando de longe", de autoria da goiana. Era 5 de agosto de 2018 e fazia frio em São Paulo. Gal tomou um susto ao recepcioná-la. Marília estava com o carro abarrotado de flores. Levou orquídeas, rosas vermelhas e crisântemos.
"Era uma tonelada de flores! É comovente uma artista já estourada reverenciar a história de outra artista. Alguém com tão pouca idade, que podia estar nem aí, mas toda humilde", lembra-se o produtor musical Marcus Preto. Antes do encontro, Marília chegou a enviar 15 músicas inéditas para Gal escolher — o que impressionou a produção.
Bastou uma ada da música para que a gravação estivesse pronta. Marília ainda insistiu para que fizessem mais uma vez. "Afinada, potente, com imenso entendimento do texto. Encantou a todos", continua Preto.
Marília era assim mesmo: exagerada nas flores, nas palavras, no sentimento em suas canções. Reconhecia que, antes dela, outras mulheres já haviam desbravado os tortuosos caminhos da música brasileira. Mas, a seu favor, havia dois pontos: a autoria das próprias canções que lhe deram popularidade e a quebra de tabus num gênero musical preguiçosamente masculino.