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A verdade é que se trata de uma equação cruel.

Para ser combatido, o estupro precisa ser exposto.

Mas a exposição, hoje, só vem quando o crime foge do “comum”.

Quantos casos como o estupro coletivo ocorrido no Rio são necessários para o tema ganhar espaço definitivo nas rodas de conversa?

Quantas atrocidades como as do Piauí até ocorrer uma mudança na forma de encarar o problema?

Quantas vítimas como a indiana Jyoti Singh, morta aos 23 anos após ser estuprada por seis homens a ponto de ter os intestinos arrancados, para calar o “estava pedindo”?

A sociedade precisa mesmo de mais mártires?

Há a necessidade de mais mortes – e não apenas no sentido literal?

Da forma como lidamos até agora, sim.

Da forma como se quer tratar a questão daqui para frente, não.

Precisa ver para crer?

Existe um consenso de que é preciso falar sobre e denunciar essas agressões usando ao máximo a exposição pública como arma poderosa para combatê-las - ainda que pesem os efeitos colaterais dessa vitrine. Há também uma sensação de que se chegou ao limite, aquele ponto em que não dá para aceitar das gracinhas aos estupros, ando por inúmeras formas de assédio (é verdade: toda mulher tem uma história dessas para contar). Vai ter reação, sim, avisam aqueles que querem a mudança. Mas, para isso, é preciso manter os holofotes voltados à violência sexual, um problema escondido por séculos no quartinho dos fundos da história.

O desafio de fazer barulho é grande, considerando a estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada): só 10% das tentativas ou casos de estupros no Brasil são reportados. Se as notificações são poucas, muito menor é o número de crimes que chega ao conhecimento do público. E a mobilização só surge em situações extremas, como se “apenas” uma agressão sexual não merecesse atenção. Para ter destaque, precisa ir tragicamente além, como no caso da adolescente vítima de estupro coletivo no Rio - há a suspeita de 33 homens terem cometido o crime -, ou quando há um ano, em Castelo do Piauí (PI), quatro vítimas de estupro coletivo apanharam, foram atiradas de um penhasco e, depois, apedrejadas. Uma delas, de 16 anos, morreu.

“Há um grau de cinismo, de hipocrisia, que nos faz ar o cotidiano fingindo que certas barbaridades não estão acontecendo. Até que um megaescândalo [como o do Rio] vem à tona e começamos a prestar atenção em coisas que já existiam. Infelizmente funcionamos nesses sustos, nesses episódios que acabam rompendo com o cinismo e a hipocrisia”, analisa Bruno Paes Manso, jornalista do site Ponte e pesquisador do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo). Daí a importância, ressalta, de o tema nunca sair do foco. Mesmo essas notícias sendo desagradáveis. Informações que as pessoas preferem não saber e que recebem pouca atenção se comparadas a revelações estilo “Caetano estaciona carro no Leblon”.

A chave da mudança está em deixar de tratar como privado um assunto público. Na prática, desconstruir de vez ladainhas como “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. “Essa ideia permitia que as mulheres apanhassem e ficassem quietas. Quando se assumiu que era preciso meter a colher, sim, que esse era um tema público, começaram as discussões para punir o marido e evitar que ele se achasse dono da mulher”, compara Manso. Hora, então, de tirarmos todos os talheres da gaveta para rever a forma como lidamos com as agressões sexuais – da cantada agressiva tratada como “brincadeira” até o silêncio diante de um estupro.

A delicadeza do tema faz com que essa exposição exija muito, mas muito cuidado. Olha o paradoxo. O crime do Rio veio a público por causa de um vídeo de 38 segundos, gravado e postado em uma rede social por um dos suspeitos. Conhecidos e parentes da vítima – inclusive a avó materna – assistiram à cena em que ela aparece nua, desacordada e violada. Não se pode imaginar uma exposição maior do que essa, uma agressão que humilha e traumatiza a vítima. Por outro lado, a gravação foi a prova do estupro coletivo (o exame de corpo de delito, feito quatro dias após o crime, não apontou indícios de violência). Sem as imagens, talvez o caso fosse abafado e o debate e a consequente mobilização não teriam acontecido. Mas veja o altíssimo preço que essa jovem pagou por alguma justiça que, sabe-se lá, um dia venha a acontecer.

Não se trata de um caso isolado: na sociedade do espetáculo, muitos criminosos registram e divulgam suas ações. A grosso modo, há uma mistura de falta de noção sobre o alcance do conteúdo, narcisismo e sensação de impunidade. No caso do estupro, há ainda a possibilidade de ameaça: “se denunciar, eu divulgo”. A boa notícia – se existe algo positivo aqui – é o fato de esses registros ajudarem na punição. Em 2013, a Justiça norte-americana condenou dois estudantes de Steubenville (Ohio) por estuprarem uma conhecida de 16 anos. Em seu depoimento, a vítima disse ter acordado nua, em um porão onde estavam os dois jovens, sem saber o que tinha acontecido. As pistas só vieram quando amigos relataram ter visto a agressão em fotos e vídeos, usados como provas do crime.

É preciso expor o problema, mas nunca a vítima - cabe essa premissa mesmo se esse for o desejo dela. Isso inclui não compartilhar o conteúdo difamatório, ainda que seja no intuito de alertar. As denúncias devem ser feitas aos órgãos competentes, e a identidade precisa sempre, sempre ser preservada. “A forma como os casos são divulgados tem efeitos atrozes. Não falam nomes, mas facilitam a identificação ao mencionar onde a pessoa estuda ou trabalha. Às vezes, identificam vizinhos ou amigos. Nada disso é necessário ou de interesse público, e muito menos deveria ser utilizado para criar mártires”, critica Cynthia Semíramis, pesquisadora sobre a história dos direitos das mulheres e doutoranda em direito na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Mártir é uma palavra pesada, porém apropriada para a história a seguir. Há dez anos, a jornalista Rose Leonel teve suas fotos íntimas divulgadas por um ex-namorado que não aceitou o fim do relacionamento. Essa exposição devastadora apresentou para muitos, inclusive para Rose, um crime até então desconhecido: o pornô de vingança. O acusado – condenado em 2013 a pagar R$ 30 mil de indenização – criou sites, blogs, mandou e-mails, distribuiu CDs e espalhou panfletos em Maringá (PR) com fotos e montagens da ex-companheira. “Custou minha vida, fui queimada viva. É um preço que ninguém quer pagar, nunca quis isso para mim, mas a bandeira veio para minhas mãos.” Criadora da ONG Marias da Internet, de apoio a mulheres vítimas de crime cibernético, hoje ela reforça o coro na luta pela igualdade de gênero e fim da sociedade machista.

Seja no caso de Rose, dos estupros aqui citados ou das inúmeras agressões sexuais que jamais conheceremos, esses crimes têm em comum a inversão da culpa. Numa distorção recorrente, a vítima se sente envergonhada por ser parte da ação (da qual foi VÍTIMA, como vale reforçar até que se entenda de vez). Rose conta que perdeu o emprego, sofreu exclusão social, preconceito e todo tipo de julgamento - assim como seus amigos, seus pais e seus filhos. Isso sem falar nas chacotas e piadas, também recorrentes. Esse tipo de "brincadeira" se espalha das formas mais chocantes – a mãe de uma menor estuprada por 13 homens, em Osasco (SP), contou ao site "G1" que colegas de escola aram a cumprimentar a vítima com um “e aí, estuprada">

Colaboraram nesta edição:

7IrisFilmes, filmagem. 

[email protected]

Direção: Rodrigo Flores; Edição: Daniel Tozzi; Reportagem: Juliana Carpanez, Rodrigo Bertolotto; UX/Design: André Alcalay, Mariana Romani, Solenn Robic; Vídeo: Mariah Kay, Ricardo D'Addio;