Desde 2020, uma das buscas mais frequentes no YouTube é "como ganhar dinheiro fazendo entregas para o Mercado Livre". Youtubers especializados em empreendedorismo gravam vídeos ensinando o caminho das pedras.
São pouquíssimas as chances de um entregador ser registrado. Em grande parte das vezes, eles assinam um contrato de prestação de serviços que exime a empresa de logística e, claro, as e-commerces, de qualquer relação trabalhista. Isso significa que gastos com carro, gasolina, problemas de saúde, extravio de encomendas e eventuais problemas são 100% ônus do prestador de serviço.
Com o aumento das vendas online, parece remota a chance de fortalecer o lado de quem está nas ruas todos os dias. O clima de "se não está bom, vai embora" impera nesse universo.
"Hoje você deu sorte", comenta o casal, comendo rapidamente dois salgados dentro do carro, enquanto conferem o endereço antes da última entrega. "Tivemos um dia menos agitado."
Pela localização, o casal já sabe que perdeu a janela comercial para fazer a entrega em uma empresa e terão de voltar no dia seguinte. Além do trânsito, do cansaço e da falta de pagamento por conta das entregas frustradas, têm de lidar constantemente com a falta de educação.
"Esquecem quem tá do outro lado, que a pessoa que te entregou um pacote à noite está o dia todo correndo pra lá e pra cá pra entregar mais 20 desses", lamenta Januário. "Isso quando não querem receber quando a do horário."
Ao TAB, Abes pede que se ressalte uma coisa ao leitor que agora descobriu sua rotina. "Dá um bom dia, uma boa tarde, uma boa noite", pede. "Tem gente que nem olha pra nossa cara, do rico ao pobre. É só tratar com educação, ninguém tá pedindo um abraço."
Em resposta às condições de trabalho dos entregadores, Décio Yuiti Sonohata, diretor executivo de logística da Magazine Luiza, afirmou que a terceirização representa apenas 20% das entregas da loja. A rotina acompanhada pelo TAB, segundo o executivo, é exceção em São Paulo. O executivo diz que a plataforma tem mais de 8 mil entregadores no país. Os motoristas, esclarece, não são funcionários da Magazine Luiza, mas há orientação direta em caso de roubo de carga e problemas com o veículo. Os valores pagos por entrega, no entanto, não foram revelados.
O executivo diz que a empresa não incentiva entregas após as 20h. "Nunca vamos atém desse horário. É uma questão de respeito ao cliente."
TAB também entrou em contato com o Mercado Livre, mas a empresa não respondeu aos questionamentos até a publicação da reportagem. O espaço para resposta está aberto.