Aos domingos, a surpresa da feira livre de Duque de Caxias é a quantidade de gaiolas. Canários e papagaios são vendidos com a mesma naturalidade com que se ofertam cajus e maracujás. Os bichos gritam para sobreviver. Os feirantes gritam para vender. Quem quer, consegue sair dali com um cãozinho, uma iguana ou até uma família de micos. Basta trocar uma ideia com os olheiros.
Eles andam carregando caixas de papelão entreabertas, oferecendo os animais com certa discrição. Alguns ficam parados próximos às bandejas espalhadas no tabuleiro ou no chão, onde é possível ver aves, três ou quatro tartarugas, alpiste e ração. Esses vendedores parecem perdidos no meio da confusão, como se toem fazer qualquer tipo de rolo.
Quando consultados, levam os interessados às ruas paralelas e vielas onde guardam animais raros — répteis, pássaros de plumagem vistosa, macacos. Muitas vezes, a negociação começa dentro de um grupo de WhatsApp. A feira é o local da entrega.
De Honório Gurgel à Baixada Fluminense, essas transações são o primeiro plano de um quadro maior, um microcosmo de contravenções na cidade. A polícia já sabe que, em diversas comunidades onde se vende bicho em feira, facções ou milicianos alugam casas e galpões para os traficantes de animais. Alguns exemplares são adquiridos pelos próprios criminosos, que os ostentam sobre canos de fuzil ou nas bocas de fumo. Esses grupos também criam animais como cobras e jacarés, tirados do mangue ou de outros biomas, para ameaçar e torturar inimigos.
Eles sabem que os animais não serão apreendidos, já que a polícia dificilmente entraria na favela só para capturá-los.