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Matheus Pichonelli

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como ódio de pobres rende votos e muda cenário em cidades brasileiras

Padre Júlio Lancellotti quebra com marreta as pedras instaladas pela Prefeitura de São Paulo sob o viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida para impedir a presença de moradores de rua - Henrique de Campos
Padre Júlio Lancellotti quebra com marreta as pedras instaladas pela Prefeitura de São Paulo sob o viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida para impedir a presença de moradores de rua Imagem: Henrique de Campos

Colunista do UOL

15/12/2021 04h00

Já ava das 17h quando resolvemos sair de São Paulo em direção ao interior. Estávamos ainda em novembro, mas as decorações natalinas, com o velho apelo à solidariedade humana, despontavam na paisagem e nas mensagens de promoções das lojas e grandes redes no caminho até a Marginal.

Num dos muitos pontos de congestionamento, um grupo fazia sinais para os motoristas parados como quem pede uma concessão. Um deles, talvez sem perceber a negativa do condutor, esticou os braços com o rodinho e começou a limpar os vidros da SUV.

O dono do veículo abaixou o vidro e botou a cabeça para a fora, o dedo em riste. De onde estava, eu não conseguia ouvir o que ele dizia. Ele teria ameaçado chamar a polícia? Ou avisado que sairia no tapa em defesa do vidro à prova de bala? Teria prometido ar as quatro rodas sobre aquele corpo magro e maltrapilho se ele se aproximasse com seu rodo novamente? Ou desejou boas festas de fim de ano?

Nunca vou saber.

O que sei é que o rapaz saiu de lá balançando a cabeça, já sem ânimo e tempo de semáforo para tentar a sorte com outro cliente.

O episódio parecia déjà-vu. Não era a primeira nem seria a última vez que veria uma cena do tipo. Nos últimos anos, essas cenas só se tornaram mais comuns.

Como num referendo da hierarquia sobreposta numa cidade feita para automóveis, não gente — menos ainda os sem-quase-nada a ladear suas marginais — não bastava negar o serviço (o que seria, vá lá, normal): era preciso ralhar e cumprir o atropelo, mesmo que simbólico.

Não faz muito que descobri a existência do termo "aporofobia". Usada recorrentemente pelo padre Júlio Lancelotti em suas redes, ela denuncia o que até outro dia eu, pelo menos, pensava que não tinha nome.

Aporofobia se refere ao pavor e ódio aos pobres (á-poros, em grego, significa "destituído"). Criada pela filósofa Adela Cortina, a expressão foi eleita a palavra do ano em 2017 pela Fundación del Español Urgente.

Em um país onde o ministro da Economia tem uma coleção de aporofobias maior do que de feitos istrativos, esse pavor não se manifesta apenas nas conversas ordinárias em palácios, casas, nos bares, escritórios e clubes recreativos — onde a senha para fazer amizade é quase sempre levantar o copo de chope e metralhar, verbalmente, a decadência e emporcalhamento dos espaços públicos promovidos por quem não quer trabalhar, não se ajuda e vive de esmola por fazer da mendicância um negócio.

Uma reportagem recente do jornal O Globo mostrou como o pavor aos pobres se revela até na arquitetura das cidades. A lista é extensa.

Em Curitiba, a gestão Rafael Greca queria multar grupos que distribuíssem comida a moradores de rua. Em Londrina, também no Paraná, vereadores aprovaram uma lei "antivadiagem" que determinava a proibição de colchões e barracas em marquises e outros lugares públicos. A lei, barrada pela prefeitura local, previa ainda que as pessoas em situação de rua só recebessem esmola caso apresentassem exame negativo para uso de drogas. (Não previa o mesmo para os filhos da classe média dispostos a cheirar a mesada numa noite qualquer).

Outra reportagem, esta do G1, levantou outros casos, como a transferência forçada de pessoas para outras cidades e a ameaça de uso de spray de pimenta contra os chamados "indesejáveis".

Nos desenhos da cidade que se expande em direção a condomínios e não quer ser lembrada de seus fossos, a estética aporofóbica se revela, mais do que tudo, nas onipresentes pedras pontiagudas instaladas embaixo de viadutos, de Porto Alegre a São Paulo. No começo do ano, Lancelotti, que é coordenador da Pastoral do Povo da Rua, foi fotografado quebrando pedras do tipo com uma marreta na zona leste da capital paulista.

Atitudes do tipo são constantemente alvos de ataques. Nas eleições municipais do ano ado, o candidato à Prefeitura de São Paulo pelo Patriota, Arhur do Val, postou uma série de vídeos atacando as ações de Lancelotti em defesa das pessoas em situação de rua. O padre foi chamado por ele de "cafetão da miséria". Foi acusado também de fomentar o tráfico no entorno da Cracolândia.

Os vídeos foram removidos por decisão da Justiça, mas provavelmente o youtuber não perdeu um voto sequer com a investida. Pelo contrário. Aporofobia dá voto. Seus apoiadores são muitos e, sim, podem voar.

Se o ódio ao pobre tem nome, o desprezo por quem tenta fazer alguma coisa por eles é um termo ainda a ser criado para o dicionário.

O cenário de estagflação brasileira tende a elevar esses ódios a patamares já reconhecidos pela história recente. Todos estão no limite, ocupados demais pagando cada vez mais por menos, e tentando salvar a própria pele. Solidariedade é para quem pode.

E, entre a boa vontade e o ódio, existe um Oceano Atlântico de cansaço convertido em indiferença.

Em seu desejo de fazer o Brasil voltar a um ado de ordem e glórias que nunca existiu, a ala do retrocesso que chegou ao poder plantando ódio por todo canteiro pode se orgulhar de um feito: como no ado, voltamos ao mapa da fome. Já somos quase um Chile sem o a alimentos básicos.

Talvez seja muito pedir para que as vítimas preferenciais do retrocesso exponham a própria existência em lugares seguros e distantes dos olhos de quem não os a. A aporofobia é a antessala do silêncio sorridente das grandes cidades a cada nova chacina.